domingo, 20 de abril de 2014

Entrevista com Maicon Tenfen



Lançamos o misterioso e tenso Canil para cachorro louco em março. Maicon Tenfen, autor de nos cedeu uma breve entrevista! Confiram:



1. A figura do professor Genésio Campanelli é de um homem que representa, de alguma maneira, o papel do pai de família, provedor, casamento monogâmico e as pulsões sexuais secretas, não realizadas dentro deste sistema. Gostaria que o senhor comentasse um pouco o processo de construção da personagem, onde e com quem se inspirou. 

Bem, pra começar vamos deixar de lado o "senhor", embora seja provável que MaiconTenfen, o personagem, gostaria de ser tratado nesse tom de "respeito é bom e eu gosto"! Escrevi Canil para cachorro louco em 2006. Naquele tempo, convivi bastante com um colega de trabalho mais velho que me trouxe grande inspiração. Até hoje ele não sabe que serviu de modelo para Genésio Campanelli. Pelo que sei, nunca teve problemas com aventuras sexuais. Também não sei se sua vida familiar é tão monótona e decepcionante como a do Prof. Genésio, mas o fato é que, quando comecei a imaginar o personagem, era a imagem dele que vinha à minha mente. O mais engraçado é que, outro dia, logo depois que o livro saiu, eu estava conversando com minha fonte de inspiração na cantina quando um aluno, um dos primeiros que leu a história, se aproximou e perguntou na lata: é ele o prof. Genésio? Desconversei como pude, mas acho que ainda consegui manter o segredo. Não é fácil ser escritor. Diga a um colega que o retratou numa obra de ficção como um canalha e tudo estará tranquilo. Mas diga que o retratou como uma pessoa infeliz... Você terá um inimigo eterno.

2. Algo bastante intrigante é a inserção de uma personagem chave, que ganhou seu nome e sobrenome. O ex-aluno e professor Maicon Tenfen é essencial para o desfecho da trama. A construção psicológica é descrita como um homem que foi alvo de conflitos e ataques no ambiente acadêmico, supostamente internado 2 vezes em clínica psiquiátrica. Mais que isso, age de maneira fria e calculista para ajudar o professor Campanelli. Você pode comentar o porquê dessa personagem, tão densa, ter ganhado seu nome e sobrenome? 

Sempre quis escrever uma história sobre chantagem sexual. O tema é batido, mas muito intrigante. Faltava encontrar uma forma de levar a  história adiante de um jeito diferente. Quando entendi que Maicon apareceria para ajudar o professor, peguei a caneta e comecei a escrever. Na universidade onde trabalho, sempre fui tratado com grande consideração. Ainda que tenha visto dois ou três comportamentos deploráveis, e ainda que tenha sido vítima de uma perseguição subterrânea durante o meu estágio probatório, não há dúvida de que meus colegas sejam excelentes pessoas. Por isso ninguém entendeu tanto "rancor". O mínimo que posso dizer é que se trata de uma obra de ficção. O Maicon que assina o texto pouco tem a ver com o Maicon que figura na trama, embora seja verdade que eu tenha passado duas vezes por uma clínica psiquiátrica. Entretanto, diferentemente do que dei a entender no texto, não fui amarrado e arrastado para lá. Me apresentei por livre e espontânea vontade. Quanto a ser frio e calculista, estou até hoje me perguntando se não seria um sonho que acalento secretamente. O próprio Genésio Campanellli não gostaria de ser assim? Será que o Maicon escritor sente inveja do Maicon personagem? São perguntas para as quais não tenho resposta, simplesmente porque a realidade tende a ser mais caótica que a ficção.


* outra entrevista: [http://homoliteratus.com/canil-para-cachorro-louco-um-livro-duplamente-insano-de-maicon-tenfen/]

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